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Os possessos de morzine (2º artigo)


Em nosso artigo precedente expomos a maneira pela qual se exerce a ação dos Espíritos sobre o homem, ação, por assim dizer, material (se você ainda não leu o primeiro artigo, então clique AQUI). Sua causa está inteiramente no perispírito, princípio não só de todos os fenômenos espíritas propriamente ditos, mas de uma imensidade de efeitos morais, fisiológicos e patológicos, incompreendidos antes do conhecimento desse agente, cuja descoberta, se assim nos podemos exprimir, abrirá horizontes novos à ciência, quando esta se dispuser a reconhecer a existência do mundo invisível.

Como vimos, o perispírito representa importante papel em todos os fenômenos da vida; é a fonte de uma porção de afecções, cuja causa é em vão buscada pelo escalpelo na alteração dos órgãos, e contra as quais é impotente a terapêutica.


Por sua expansão explicam-se, ainda, as reações de indivíduo a indivíduo, as atrações e repulsões instintivas, a ação magnética, etc. No Espírito livre, isto é, desencarnado, substitui o corpo material; é o agente sensitivo, o órgão por meio do qual ele age. Pela natureza fluídica e expansiva do perispírito, o Espírito alcança o indivíduo sobre o qual quer atuar, rodeia-o, envolve-o, penetra-o e o magnetiza. Vivendo em meio ao mundo invisível, o homem está incessantemente submetido a essas influências, assim como às da atmosfera que respira, traduzindo-se aquelas por efeitos morais e fisiológicos dos quais não se dá conta e que, muitas vezes, atribui a causas inteiramente contrárias. Essa influência difere, naturalmente, segundo as qualidades, boas ou más, do Espírito, como já explicamos no artigo anterior. Se ele for bom e benevolente a influência, ou, se quisermos, a impressão, é agradável e salutar; é como as carícias de uma terna mãe, que abraça o filho. Se for mau e perverso, será dura, penosa, aflitiva e por vezes perniciosa; não abraça: constrange. Vivemos num oceano fluídico, expostos incessantemente a correntes contrárias, que atraímos ou repelimos, e às quais nos abandonamos, conforme nossas qualidades pessoais, mas em cujo meio o homem sempre conserva o seu livre-arbítrio, atributo essencial de sua natureza, em virtude do qual pode sempre escolher o caminho.

Como se vê, isto é inteiramente independente da faculdade mediúnica, tal como é concebida vulgarmente. Estando a ação do mundo invisível na ordem das coisas naturais, ela se exerce sobre o homem, abstração feita de qualquer conhecimento espírita. Estamos a elas submetidos, como o estamos à influência da eletricidade atmosférica, mesmo não sabendo a física, como ficamos doentes, sem conhecer a medicina. Ora, assim como a física nos ensina a causa de certos fenômenos e a medicina a de certas doenças, o estudo da ciência espírita nos ensina a causa dos fenômenos devidos às influências ocultas do mundo invisível e nos explica o que, sem isto, nos parecerá inexplicável. A mediunidade é o meio direto de observação. O médium - que nos permitam a comparação - é o instrumento de laboratório pelo qual a ação do mundo mundo invisível se traduz de maneira patente. E, pela facilidade que nos oferece de repetir as experiências, permite-nos estudar o modo e os diversos matizes desta ação. Destes estudos e destas observações nasceu a ciência espírita.

Todo indivíduo que, de uma maneira ou de outra, sofre a influência dos Espíritos, é, por isto mesmo, médium, razão por que se pode dizer que todo o mundo é médium. Mas é pela mediunidade efetiva, consciente e facultativa que se chegou a constatar a existência do mundo invisível e, pela diversidade das manifestações obtidas ou provocadas, foi possível esclarecer a qualidade dos seres que o compõem e o papel que representam na Natureza. O médium fez pelo mundo invisível o que fez o microscópio pelo mundo dos infinitamente pequenos.

É, pois, uma nova força, uma nova faculdade, uma nova lei, numa palavra, que nos foi revelada. É realmente inconcebível que a incredulidade repila mesmo a idéia, levando-se em conta que esta idéia supõe em nós uma alma, um princípio inteligente que sobrevive ao corpo. Se se tratasse da descoberta de uma substância material e ininteligente, seria aceita sem dificuldade. Mas uma ação inteligente fora do homem é, para eles, superstição. Se, da observação dos fatos produzidos pela mediunidade, remontarmos aos fatos gerais, poderemos, pela similitude dos efeitos, concluir pela similitude das causas. Ora, é constatando a analogia dos fenômenos de Morzine com aqueles que diariamente a mediunidade põe aos nossos olhos que nos parece evidente a participação dos Espíritos malfazejos naquela circunstância; e não o será menos para quantos tiverem meditado sobre os numerosos casos isolados, relatados na Revista Espírita. A única diferença está no caráter epidêmico da afecção. Mas a história registra alguns fatos semelhantes, entre os quais figuram o das religiosas de Loudun, dos convulsionários de Saint-Médard, dos calvinistas das Cévènes e dos possessos do tempo do Cristo. Estes últimos, sobretudo, apresentam notável analogia com os de Morzine; e - coisa digna de nota - em qualquer parte onde esses fenômenos se produzissem, a idéia de que fossem devidos a Espíritos era o pensamento dominante e como que intuitiva naqueles por eles afetados.

Se nos reportarmos ao nosso primeiro artigo sobre a teoria da obsessão, contida em O Livro dos Médiuns, e aos fatos relatados na Revista, veremos que a ação dos maus Espíritos, sobre os indivíduos de que se apoderam, apresenta nuanças de intensidade e duração extremamente variadas, conforme o grau de malignidade e perversidade do Espírito e, também, de acordo com o estado moral da pessoa que lhes dá acesso mais ou menos fácil. Muitas vezes tal ação é temporária e acidental, mais maliciosa e desagradável que perigosa, como no caso que relatamos em nosso artigo anterior. O fato seguinte pertence a esta categoria:

O Sr. Indermühle, de Berna, membro da Sociedade Espírita de Paris, contou-nos que em sua propriedade de Zimmerwald, o capataz, homem de força hérculea, certa noite se sentiu agarrado por um indivíduo que o sacudia vigorosamente. Dir-se-ia um pesadelo; mas não era, pois o homem estava bem desperto, levantou-se, lutou algum tempo com quem o agarrava e, quando se sentiu livre, tomou do sabre, pendurado ao lado do leito, e pôs-se a esgrimi-lo no escuro, sem nada atingir. Acendeu uma vela, procurou por toda parte e não encontrou ninguém; a porta estava bem fechada. Mal retornara ao leito e o jardineiro, que estava no quarto ao lado, começou a pedir socorro, debatendo-se e gritando que o estrangulavam. O capataz correu para o vizinho, mas, tal como ocorrera consigo, não viu ninguém. Uma criada, que dormia na mesma construção, ouviu todo o barulho. Apavorados todos vieram, no dia seguinte, contar ao Sr. Indermühle o que se havia passado. Depois de ter-se informado de todos os detalhes e certo de que nenhum estranho poderia ter-se introduzido nos aposentos, foi levado a crer numa brincadeira de mau gosto, por parte de algum Espírito, já que manifestações físicas inequívocas, de diversas naturezas, se produziam desde algum tempo em sua casa. Tranquilizou sua gente, recomendando que observassem com cuidado tudo quanto se passasse, caso a coisa se repetisse. Como ele e a esposa fossem médiuns, evocou o Espírito perturbador, que confessou o fato e se desculpou, dizendo: "Eu vos queria falar, pois sou infeliz e necessito de vossas preces; há muito tempo faço tudo o que posso para vos chamar a atenção; bato à vossa porta e, até mesmo, já vos puxei a orelha (O Sr. Indermühle lembrou-se do fato), mas em vão. Então julguei que, protagonizando a cena da noite passada, pensaríeis em me chamar. Fizeste-o e estou contente; asseguro-vos, porém, que não tinha más intenções. Prometei chamar-me algumas vezes e orar por mim." O Sr. Indermühle o repreendeu, repetiu a conversa, deu-lhe uma lição de moral, que ele escutou com prazer, orou por ele e disse aos criados que fizessem o mesmo, o que logo foi feito, já que eram pessoas piedosas. Desde então, tudo ficou em ordem.

Infelizmente, nem todos os Espíritos têm tão boa disposição; esse não era mau. Alguns há, porém, cuja ação é tenaz, permanente, podendo até mesmo haver consequências desagradáveis para a saúde dos indivíduos; direi mais: para suas faculdades intelectuais, caso o Espírito consiga subjugar a vítima, a ponto de neutralizar seu livre-arbítrio e constrangê-la a dizer e a fazer extravagâncias. Tal é o caso da loucura obsessiva, muito diversa nas causas, se não nos efeitos, da loucura patológica.

Em nossa viagem vimos o jovem obsidiado, do qual falamos na Revista de janeiro de 1861, sob o título de Espírito batedor do Aube, e ouvimos do próprio pai e de testemunhas oculares a confirmação de todos os fatos. O rapaz tem agora dezesseis anos; é saudável, forte, perfeitamente constituído e, contudo, queixa-se de dor no estômago e fraqueza nos membros, o que, segundo diz, o impede de trabalhar. Vendo-o, pode-se facilmente crer que a preguiça seja sua principal doença, o que nada tira à realidade dos fenômenos produzidos há cinco anos e que, sob muitos aspectos, lembram os de Bergzabern (Revista: maio, junho e julho de 1858). Já o mesmo não se dá com a sua saúde moral; quando criança era muito inteligente e na escola aprendia com facilidade. Desde então suas faculdades enfraqueceram sensivelmente. Deve-se acrescentar que só recentemente ele e seus pais conheceram o Espiritismo, ainda por ouvir dizer e muito superficialmente, pois nada leram; antes nunca tinham ouvido falar. Não se poderia ver, assim, nenhuma causa provocadora. Os fenômenos materiais praticamente cessaram ou, pelo menos, são hoje muito mais raros; mas o estado moral é o mesmo, o que é tanto mais deplorável para os pais, que vivem do trabalho. Sabe-se da influência da prece em tais casos; mas como nada se pode esperar do rapaz em questão, seria necessário o concurso dos pais; estes estão convencidos de que o filho encontra-se sob má influência oculta, mas sua crença não vai além e sua fé religiosa é das mais fracas. Dissemos ao pai que era preciso orar, mas seriamente e com fervor. "É o que já me disseram", respondeu ele; "Orei algumas vezes, mas sem resultado; se soubesse que orando uma porção de vezes durante vinte e quatro horas isto acabasse, eu o faria agora." Por aí se vê de que maneira, nesta circunstância, podemos ser secundados por aqueles que são os maiores interessados.

Eis a contrapartida do caso e uma prova da eficácia da prece, quando feita com o coração e não com os lábios:

Contrariada em suas inclinações, uma mocinha se casara com um homem a quem não simpatizava. A mágoa que isso gerou levou-a a um distúrbio mental; dominada por uma idéia fixa, perdeu a razão e viram-se obrigados a interná-la. Ela jamais ouvira falar de Espiritismo; se dele se tivesse ocupado, não teria faltado quem dissesse que os Espíritos lhe haviam transtornado a cabeça. O mal provinha, assim, de uma causa moral, acidental e toda pessoal, compreendendo-se que, em tais casos, os remédios normais não poderiam ter nenhuma valia. Como não havia nenhuma obsessão aparente, podia-se duvidar igualmente da eficácia da prece.

Um membro da Sociedade Espírita de Paris, amigo da família, julgou dever interrogar um Espírito superior, que respondeu: "A idéia fixa dessa senhora, por sua própria causa, atrai à sua volta uma multidão de Espíritos maus, que a envolvem com seus fluidos e alimentam suas idéias, impedindo que cheguem até ela as boas influências. Os Espíritos dessa natureza abundam sempre em meios semelhantes ao em que ela se encontra e, muitas vezes, constituem obstáculo à cura dos doentes. Contudo podereis curá-la; mas, para tanto, é necessário uma força moral capaz de vencer a resistência. E tal força não é dada a um só. Que cinco ou seis espíritas sinceros se reúnam todos os dias, durante alguns instantes e peçam com fervor a Deus e aos bons Espíritos que a assistam; que a vossa prece fervorosa seja, ao mesmo tempo, uma magnetização mental; para tanto, não tendes necessidade de estar junto a ela; ao contrário: pelo pensamento podeis levar-lhe uma salutar corrente fluídica, cuja força estará na razão de vossa intenção, aumentada pelo número. Por tal meio podereis neutralizar o mau fluido que a envolve. Fazei isto; tende fé e confiança em Deus e esperai."

Seis pessoas se dedicaram a essa obra de caridade e, durante um mês, não faltaram sequer um dia à missão que haviam aceitado. Ao cabo de alguns dias a doente estava sensivelmente mais calma; quinze dias mais tarde a melhora era manifesta e hoje esta mulher voltou para sua casa em estado perfeitamente normal, ignorando ainda, como o seu marido, de onde lhe adveio a cura.

O modo de ação é aqui indicado claramente e nada teríamos a acrescentar de mais preciso à explicação dada pelo Espírito. Assim, a prece não tem apenas o efeito de levar ao paciente um socorro estranho, mas o de exercer uma ação magnética. O que não faria o magnetismo secundado pela prece! Infelizmente certos magnetizadores, a exemplo de muitos sábios, fazem abstração do elemento espiritual; vendo apenas a ação mecânica, privam-se, assim, de poderoso auxiliar. Esperamos que os verdadeiros espíritas vejam no fato uma prova a mais do bem que podem fazer em tal circunstância.

Naturalmente aqui se apresenta uma questão de grande importância: O exercício da mediunidade pode provocar transtornos da saúde e das faculdades mentais?

É de notar que, assim formulada, esta é a pergunta feita pela maioria dos antagonistas do Espíritismo ou, melhor dizendo, em vez de uma pergunta, eles reduzem o princípio a um axioma, afirmando que a mediunidade conduz à loucura. Falamos da loucura real e não desta, mais burlesca que séria, com que gratificam os adeptos. Conceber-se-ia a pergunta da parte de quem acreditasse na existência dos Espíritos e na ação que eles pudessem exercer, porque, para eles, existe algo de real. Mas para os que não acreditam a pergunta é um disparate, porquanto, se nada existe, esse nada não poderá produzir algo. Sendo a tese insustentável, eles se estribam nos perigos da superexcitação cerebral que, em sua opinião, é suficiente para produzir a crença nos Espíritos. Já tratamos deste ponto e a ele não mais voltaremos; apenas perguntamos se já foi feito o cadastro de todos os cérebros transtornados pelo medo do diabo e dos terríveis quadros das torturas do inferno e da danação eterna, e se é mais prejudicial acreditarmos que temos ao nosso lado Espíritos bons e benevolentes, os pais, os amigos e o anjo-da-guarda, do que o demônio.

Se for assim formulada, a pergunta se torna mais racional e mais séria, desde que se admita a existência e a ação dos Espíritos: O exercício da mediunidade pode provocar num indivíduo a invasão de maus Espíritos e suas consequências?

Jamais dissimulamos os escolhos encontrados na mediunidade, razão por que, em O Livro dos Médiuns, multiplicamos as instruções a tal respeito, não tendo cessado de recomendar o seu estudo prévio, antes de se entregarem à prática. Assim, desde a publicação daquele livro, o número de obsidiados diminuiu sensível e notoriamente, porque poupa uma experiência que os noviços muitas vezes só adquirem à própria custa. Dizemo-lo ainda: sim, sem experiência a mediunidade tem inconvenientes, dos quais o menor seria ser mistificado pelos Espíritos enganadores e levianos. Fazer Espiritismo experimental sem estudo é querer fazer manipulações químicas sem saber química.

Os numerosos exemplos de pessoas obsidiadas e subjugadas da mais desagradável maneira, sem jamais terem ouvido falar de Espiritismo, provam exuberantemente que o exercício da mediunidade não tem o privilégio de atrair os maus Espíritos. Mais ainda: prova a experiência que é um meio de os afastar, permitindo reconhecê-los. Todavia, como muitas vezes alguns vagueiam em redor de nós, pode acontecer que, encontrando oportunidade para se manifestarem, aproveitam-na, caso encontrem no médium uma predisposição física ou moral, que o torne acessível à sua influência. Ora, tal predisposição se prende ao indivíduo e a causas pessoais anteriores, e não à mediunidade. Pode-se dizer que o exercício da faculdade é uma ocasião e não uma causa. Mas se alguns indivíduos estiverem neste caso, outros há que oferecem uma resistência insuperável aos maus Espíritos, e a eles estes últimos não se dirigem. Falamos de Espíritos realmente maus e perniciosos, na verdade os únicos perigosos, e não de Espíritos levianos e zombeteiros, que se insinuam por toda parte.

A presunção de julgar-se invulnerável contra os maus Espíritos muitas vezes tem sido punida de maneira cruel, porque jamais são impunemente desafiados pelo orgulho. O orgulho é a porta que lhes dá mais fácil acesso, pois ninguém oferece menos resistência do que o orgulhoso, quando tomado pelo seu lado fraco. Antes de nos dirigirmos aos Espíritos, convém, pois, proteger-nos contra o ataque dos maus, como se marchássemos em terreno onde tememos picadas de serpentes. Isto se consegue, de início, pelo estudo prévio, que indica a rota e as precauções a tomar; depois, pela prece. Mas é necessário bem nos compenetrarmos da verdade de que o único preservativo está em nós, em nossa própria força, e nunca nas coisas exteriores, e que não há talismãs, nem amuletos, nem palavras sacramentais, nem fórmulas sagradas ou profanas que possam ter a menor eficácia se não tivermos em nós mesmos as qualidades necessárias. São essas qualidades, portanto, que nos devemos esforçar para adquirir.

Se estivéssemos bem persuadidos do objetivo essencial e sério do Espiritismo; se nos preparássemos sempre para o exercício da mediunidade por um fervoroso apelo ao nosso anjo-da-guarda e aos Espíritos protetores; se nos estudássemos, esforçando-nos por nos purificarmos de nossas imperfeições, os casos de obsessão mediúnica seriam ainda mais raros. Infelizmente, muitos vêem apenas o fato das manifestações. Não contentes com as provas morais que sobejam em seu redor, querem a todo custo permitir-se a satisfação de comunicar-se eles mesmos com os Espíritos, forçando o desenvolvimento de uma faculdade que muitas vezes não existe, guiados mais pela curiosidade do que pelo desejo sincero de melhorar-se. Disso resulta que, em vez de se envolverem numa atmosfera fluídica salutar; de se cobrirem com as asas protetoras de seus anjos-da-guarda; de buscarem o domínio de suas fraquezas morais, abrem a porta de par em par aos Espíritos obsessores, que provavelmente os teriam atormentado de outra maneira em outra ocasião, mas que aproveitam o ensejo que se lhes oferece. Que dizer, então, daqueles que fazem das manifestações um jogo, nelas não vendo senão um motivo para distração ou curiosidade, procurando meios de satisfazer a ambição, a cupidez ou os interesses materiais? É neste sentido que se pode dizer que o exercício da mediunidade pode provocar a invasão dos maus Espíritos; sim, é perigoso brincar com estas coisas. Quantas pessoas lêem O Livro dos Médiuns unicamente para saber como agir, uma vez que a receita ou a maneira de proceder é a coisa que mais lhes interessa? O lado moral da questão é acessório. Assim, não se deve imputar ao Espiritismo o que resulta da imprudência das criaturas.

Voltemos aos possessos de Morzine. Aquilo que um Espírito pode fazer a um indivíduo, vários Espíritos o podem sobre diversos, simultaneamente, e dar à obsessão um caráter epidêmico. Uma nuvem de maus Espíritos pode invadir uma localidade e aí se manifestar de várias maneiras. Foi uma epidemia de tal gênero que transtornou a Judéia, ao tempo do Cristo e, em nossa opinião, é de uma epidemia semelhante que padece Morzine.

É o que procuraremos estabelecer num próximo artigo, no qual destacaremos os caracteres essencialmente obsessivos dessa afecção. Analisaremos os relatórios dos médicos que a observaram, entre outros o do Dr. Constant, bem como os meios curativos empregados, quer pela medicina, quer através de exorcismos.

Fonte: Revista Espírita, Janeiro de 1863.

Que Jesus nos ilumine sempre!

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